Entrevista/ “As start-ups têm vindo a acentuar o seu perfil exportador”

Paulo Nunes de Almeida, presidente da AEP – Associação Empresarial de Portugal, Câmara de Comércio e Indústria, analisa as caraterísticas das start-ups nacionais e apresenta alguns dos programas que a própria associação promove para este universo empresarial.
Na sua opinião, de que forma estão as start-ups a dinamizar o panorama empresarial português?Felizmente, o apoio ao empreendedorismo, em particular às star-tups, é atualmente uma prioridade ao nível das políticas públicas, no sentido de estimular um ecossistema de empreendedorismo à escala nacional, atrair investidores nacionais e estrangeiros e promover o cofinanciamento das start-ups e a aceleração do seu crescimento. A informação disponível aponta já para alguns resultados significativos em termos da dinamização deste segmento empresarial em Portugal.
Num estudo recente sobre o “Empreendedorismo em Portugal”, onde é traçado o perfil das empresas com menos de um ano de atividade, sublinha-se a forte iniciativa individual, a capacidade de inovação e de introdução de novas tendências de mercado, bem como o papel relevante na criação de emprego e na renovação setorial. Outra caraterística também muito relevante é o acentuar, ao longo dos últimos anos, do perfil exportador das start-ups.
Em que sectores de atividade o fenómeno start-up tem mais hipóteses de sucesso e crescimento?
É inegável o desenvolvimento do empreendedorismo, sobretudo de base tecnológica, o que tenderá a elevar o peso de sectores de alta e média-alta tecnologia na estrutura empresarial portuguesa e, portanto, no perfil de especialização produtiva do país. Mas diria que, em simultâneo com o dinamismo deste empreendedorismo de base tecnológica, temos vindo a assistir ao surgimento de start-ups em múltiplos sectores de atividade económica, muitas vezes ligados aos sectores ditos tradicionais, que prefiro apelidar de “sectores com tradição”. De facto, tendo em conta os dados disponíveis no âmbito das várias iniciativas de apoio público às start-ups, nota-se uma abrangência setorial interessante, ainda que com uma forte concentração nos serviços. Facilmente encontramos exemplos de start-ups em novos sectores e em sectores “mais tradicionais”, potenciados pela utilização de novas tecnologias.
Que desafios esperam as start-ups portuguesas, tendo em conta a pouca dimensão do mercado nacional? Na sua perspetiva, qual o caminho para conseguirem vingar?
Dada a limitada dimensão do mercado nacional, considero que qualquer plano ambicioso de expansão passa, necessariamente, por equacionar um cenário de internacionalização da atividade empresarial, seja pela via do comércio internacional ou do investimento direto.
É isso que o tecido empresarial português tem vindo a concretizar, aproveitando as múltiplas oportunidades e conquistando ganhos significativos de quota de mercado, o que expressa de forma muito evidente a sua capacidade competitiva nos mercados internacionais. As empresas têm um papel fundamental na trajetória de crescimento económico e de bem-estar. O bom desempenho das exportações tem sido um excelente contributo para o crescimento do PIB, para a criação de emprego e para a correção do desequilíbrio externo. A perspetiva da internacionalização, pela via da exportação, mas também pela via do investimento (atraindo investidores estrangeiros), não poderá estar desligada da estratégia de desenvolvimento das start-ups portuguesas.O facto das start-ups terem vindo a acentuar o seu perfil exportador é um sinal claro e muito positivo de que também este segmento empresarial já percebeu que esse é o caminho a seguir.
Como podem os investidores ajudar a potenciar o desenvolvimento destes novos projetos empresariais? Disponibilizando know how, capital…?
Naturalmente que os projetos empresariais necessitam de capital para viabilizar e desenvolver em pleno as suas ideias/projetos. Neste âmbito, para além dos instrumentos do Portugal 2020, como é o caso do “Startup voucher” ou dos “Vales Incubação”, incluídos no Programa StartUP Portugal, também os financiadores privados de capital de risco (business angels) e outros investidores qualificados terão um papel muito relevante, pois muitas das vezes não se limitam a aportar unicamente capital, transmitindo também a sua experiência e know-how, o que permite potenciar o sucesso das empresas.
Qual o contributo da AEP para a dinamizar as start-ups? Posiciona-se como parceiro estratégico para a inovação e crescimento destas empresas?
Ao longo dos últimos anos, são já muitas as iniciativas que a AEP desenvolveu, nas mais diversas áreas, para promover o empreendedorismo. No âmbito das iniciativas mais recentes destaco o projeto Novo Rumo a Norte – um projeto a pensar nas empresas, nos empresários e, transversalmente, nos empreendedores do Norte de Portugal, que está assente numa rede colaborativa composta por mais de uma centena de parceiros.
O Novo Rumo a Norte visa a partilha de informação qualificada, credível e de fácil acesso, permitida pela operacionalização da sua plataforma digital (com um serviço de Helpdesk que dá resposta num prazo de 48 horas). Para além da plataforma digital, as sessões coletivas de Mentoring e Coaching são seguramente um ponto de partida para levar mais longe qualquer ideia de negócio, de modo a permitir que se “Entre com uma ideia, saia com um negócio”, justamente um dos principais propósitos do projeto. Neste momento temos mais de seis centenas de empreendedores/empresários a participar nas Sessões Coletivas de Mentoring e Coaching, na Região Norte.
Que tipo de iniciativas /programas têm promovido em prol da inovação e empreendedorismo nacional?Para além do projeto Novo Rumo a Norte, destaco o Projeto Empreender 2020 – O Regresso de uma Geração Preparada, o Projeto Apreender 3.0: Desenvolver Atitudes Empreendedoras, e o projeto Empreender 4560 – Estratégia de Apoio ao Empreendedorismo Sénior, todos da responsabilidade da Fundação AEP.
O primeiro pretende criar condições para o regresso dos jovens qualificados emigrados, através de uma avaliação das expetativas empresariais e do estímulo do espírito empreendedor face às oportunidades e mecanismos de apoio. Neste projeto, a Fundação AEP tem como objetivo central preparar o país para o regresso, na próxima década, de jovens dotados de competências, que potenciem um capital de conhecimento único para o crescimento económico, sustentado no empreendedorismo e na inovação.
No “Apreender 3.0: Desenvolver Atitudes Empreendedoras”, o objetivo da Fundação AEP passa por desenvolver um suporte ao empreendedorismo, que envolva infraestruturas de incubação, para apoiar a criação de novas empresas. É um projeto que promove um ambiente atrativo para iniciativas empresariais emergentes e para a criação de startups e spin-offs.
O “Empreender 4560 – Estratégia de Apoio ao Empreendedorismo Sénior” visa a implementação de um plano estruturado de apoio ao empreendedorismo sénior – pessoas que se encontram na faixa etária entre os 45 e os 60 anos -, apostando fortemente em soluções que promovam o mutualismo intra e inter geracional, como forma de ultrapassar os principais constrangimentos que inibem as suas atitudes empreendedoras (que têm a ver, nomeadamente, com a existência de lacunas na oferta de soluções eficazes para a atenuação do desemprego nesta faixa etária, sobretudo, em indivíduos com elevados níveis de qualificação).
Qual é, na sua opinião, o impacto de eventos mundiais como o Web Summit para a valorização do empreendedorismo nacional?
O impacto é inegável e significativo, pela forte projeção do empreendedorismo nacional além-fronteiras e da atratividade do país como destino de start-ups, em particular as tecnológicas, o foco do evento, que pretende justamente ser a melhor conferência mundial nesta área.
Os números da conferência, quer em termos de visitantes, incluindo gestores de topo, de oradores, de jornalistas e de países participantes são públicos e falam por si em termos de visibilidade do evento. Os benefícios económicos para o país são diretos e imediatos – não só pela atividade gerada durante o próprio evento -, mas esperam-se também benefícios indiretos e a médio e longo prazo, associados à referida visibilidade, com fortes efeitos de arrastamento em várias áreas, seja pelo potencial de criação de novos negócios em território português, seja pela sinalização e incentivo dados aos empreendedores nacionais, seja pelo fator de atração de empreendedores, investidores e incubadoras estrangeiros que queiram cá localizar a sua atividade.
Acredito que a continuidade da realização deste evento em território nacional – que estará já confirmada -, contribuirá de forma muito positiva para intensificar todos estes benefícios, potenciando ganhos para o tecido empresarial e para a economia portuguesa.