Opinião
As pessoas-chave

Pode a biologia fazer-nos pensar na pertinência, relevância e absoluta importância de pessoas-chave nas nossas equipas? Claro que pode. Partimos de um caso da ciência como metáfora para refletirmos no valor que certos colaboradores têm – sobremaneira – nas nossas empresas. Por mérito próprio.
Nos anos 60 os EUA avançavam para uma década em volta do movimento dos direitos civis, liderado por Martin Luther King, bem como pela eleição de John F. Kennedy, a crise dos mísseis de Cuba e o sprint em prol da exploração do espaço, que culminaria com a Apollo11 a levar e trazer os primeiros astronautas ao satélite terrestre, a Lua. Mas sem sair do nosso planeta haveria muito de igualmente fascinante para descobrir.
O biólogo Robert Paine acabava de idealizar e imortalizar o tipo de experiência apelidado de “kick and see”. Em resumo: num contexto controlado, neste caso na Baía de Makah no noroeste da costa dos EUA, resolveu retirar todas as estrelas-do-mar de uma zona da baía, só para ver no que isto ia dar (“kick and see”). Para quem não sabe, por mais que a fantasia cinematográfica as pinte de cor de rosa, as estrelas-do-mar são uma espécie bem predadora…
Ao retirar as estrelas-do-mar de algumas zonas, usou outras zonas como amostra comparativa, mantendo-as. O que verificou no primeiro caso, ao retirá-las, é que imediatamente os mexilhões tomaram conta do habitat. Estes começavam a multiplicar-se de tal forma que dominavam por completo todo o habitat, empurrando para fora as outras espécies e destruindo o equilíbrio que previamente ali coabitava.
Estava descoberto o conceito de “Espécies-Chave”.
Tal como na experiência de Paine, na Baía de Makah, também as empresas têm Colaboradores-Chave. Todos os profissionais são importantes. Alguns pela exímia capacidade técnica. Outros pela sua explícita produtividade. Mas há elementos que são sobremaneira relevantes não por uma descritiva capacidade objetiva, mas antes pelo papel que desempenham no ecossistema – seja pelo equilíbrio que inserem nas diatribes das equipas, no prosseguimento a bom ritmo dos projetos sem desvio do objetivo, na união em torno dos valores e da cultura, etc.
E não tem a ver com a patente, ou a antiguidade, ou a capacidade técnica. Tem a ver com um papel preponderante para o equilíbrio da equipa e que é coadjuvante para o convívio de todos em harmonia.
Quem são e qual o papel que desempenham – tal deverá ser uma preocupação de um líder de equipas: descobrir, alimentar, nutrir e manter estas pessoas-chave que, bem sabemos, por vezes são quem de uma forma até pouco consciente têm da sua importância na ‘cola’ dentro da organização.
Ora unindo grupos. Ora estimulando a criatividade. Ora mantendo a paz. Ora fazendo acreditar no propósito quando já muitos resvalavam para criticar o dia a dia de minudências. Ora descobrindo talento. Ora formando talento.
Tal como na Baía de Makah, no nosso mar de gente, de pessoas talentosas, esforçadas e dedicadas, procuremos as espécies-chave que, bem sabemos, não são super-homens nem super-mulheres, mas são especiais pelo brilho que trazem e iluminam no ambiente de equipa sempre a caminhar num único sentido.