Argentina: histórias de vitória e fracasso de 4 empresas unicórnio

Qual o segredo de quatro empresas argentinas que passaram de start-ups tecnológicas a gigantes mundiais? São histórias inspiradoras, reveladas por estas empresas unicórnio.

MercadoLibre, Despegar, DeRemate e Globant. Estas são as empresas tecnológicas argentinas que, depois de terem dado os primeiros passos como start-ups, atingiram um valor de mercado de milhões de dólares. São histórias de lutas, de competição e de alguns contratempos. Retratam a vontade de vencer de empreendedores locais, que ganharam dimensão mundial e que Sebastián Catalano retrata no livro “Os novos reis argentinos”.

Nele, o jornalista descreve como foi a evolução destas empresas desde jovens start-ups, até assumirem o estatuto de players regionais e, posteriormente, dimensão mundial dos negócios da internet. Eis o resumo de um percurso feito de vitórias e de erros.

Globant

Esta empresa de produtos de software nasceu em 2003 e três anos depois abria o primeiro escritório fora de Buenos Aires. Ganhou o seu primeiro milhão graças a um contrato com a LastMinute.com, plataforma online de reservas aéreas, hotéis e viagens. Passaram de uma faturação de 200 mil dólares, no primeiro ano, para três milhões de dólares no segundo ano. Os fundadores da Globant confessaram ao autor do livro, que os “saltos” de faturação da empresa foram difíceis. Mas continuaram, ao passar de um milhão de dólares por mês, para três milhões de dólares. Levaram meia dúzia de anos a chegar aos 50 milhões por ano. E pelo meio ainda foram atingidos pela dura e difícil crise de 2008. Passar para os 100 milhões de dólares de faturação levou mais dois anos. O que se aconteceu para darem este salto estratégico? Imensas coisas, segundo os fundadores da Globant. As mudanças de escala trouxeram associado mudanças de capacidade, de pessoas e de gestão. Empreender é investir em gente e em processos, asseguram. Hoje a empresa tem escala mundial e está presente em 12 países, com especial enfoque na América Latina.

Despegar

A meio do seu processo de crescimento, a Despegar, uma agência de viagens online criada em 1999, enfrentou dois acontecimentos que afetaram fortemente a sua atividade: o aparecimento da bolha da internet e a queda das Torres Gémeas em 2001, um acontecimento que teve um impacto brutal no sector das viagens e do turismo. Contudo, desde o início da start-up que a ideia dos cinco fundadores (Roby Souviron, Christian Vilate, Martín Rastellino, Mariano Fiori e Alejandro Tamer) era vender o projeto. Ou seja, fazer crescer a empresa e depois vendê-la. Os fundadores não tinham em mente o conceito de empresa de longo prazo. Nesse período difícil, a liderança de Roby Souviron foi fundamental para levar em frente a ideia do grupo fundador. Depois de perder muito dinheiro no primeiro mês, as perspetivas de sobrevivência eram muito poucas. Por isso, o grupo tomou medidas duras: reajustou-se, despediu e repensou as estratégias para aumentar o investimento. Estavam sem dinheiro em caixa e os acionistas pediam-lhes que encerrassem as portas. Foi uma situação “tremenda”, asseguram os fundadores.

Fecharam-se num pequeno escritório em Miami e propuseram-se a não sair dali sem um plano, apesar de racionalmente saberem que fechar era a melhor opção. Delinearam uma estratégia para renegociar com os fornecedores, mudaram o modelo de negócio com os parceiros em cada um dos países em que estavam presentes e tiveram que despedir muitas pessoas, muitos amigos. Este foi o ponto de viragem na vida da Despegar. Em cinco meses começou a recuperar, parou de perder dinheiro e pediu aos investidores fundos para liquidar as dívidas. A Despegar renasceu. Como ultrapassaram a crise? Mais uma vez, “concentramo-nos no que cada um devia fazer, com sacrifício e criatividade”, lembram os fundadores do projeto. Hoje, a Despegar está presente em mais de duas dezenas de países e fatura milhões.

DeRemate

Atualmente, com negócios em mais de uma dezena de países, Portugal incluído, a De Remate é um site de e-commerce que vende desde produtos de eletrónica, a eletrodomésticos, informática ou desporto e fitness, entre muitas outras categorias. Em 1999, Alec Oxenford, então com 30 anos, foi eleito CEO da DeRemate (hoje lidera o OLX e a LetGo). A experiência foi espetacular, lembra no livro “Os novos reis argentinos”. Refere que nunca sofreu tanto como na altura. Esteve quase seis meses sem dormir, recorda, mas foi gratificante. “Foi difícil e intenso”, afirma. A DeRemate cresceu e cresceu. Nas duas primeiras rondas de investimento obteve mais de 50 milhões de dólares. Na altura, Oxenford reconheceu os erros dos primeiros anos. “Talvez o maior erro fosse não ter aceite um acordo com o eBay por pensar que era mau. Isso ter-nos-ia impedido de tentar inventar uma roda que já fora inventada”, recorda. A MercadoLibre aceitou. Isso teria mudado o curso da história da DeRemate. Além disso, teria escolhido sócios mais parecidos com os que tem agora, seria mais conservador na utilização do dinheiro e não teria gasto tanto em publicidade à start up.

MercadoLibre

Quando perguntaram a Marcos Galperín, cofundador e presidente da MercadoLibre, um gigante do comércio online, como surgiu a ideia de criar a start-up a resposta foi simples: “apaixonas-te por uma ideia, por uma tecnologia e vais em frente, muito além dos problemas e das complexidades”. Embora a ideia já estivesse na cabeça dos seus cofundadores, a primeira vez que o modelo foi equacionado, do lado do investimento, foi com o apoio de um dos pesos pesados do momento: Jack McDonald. Professor de finanças de Stanford (onde Marcos Galperín fez seu MBA), era uma verdadeira lenda, pela sua trajetória, ensinamentos e convidados que levava às conferências. E foi um desses convidados, John Muse, um investidor milionário, que Galperín levou ao aeroporto depois da dissertação que fizera na conferência promovida pelo professor. Era uma oportunidade única para estar alguns minutos com alguém que estava a investir em força em projetos dot-com. Falou-lhe do seu plano de negócio e nunca pensou ouvi-lo dizer “amo a ideia”. Enquanto caminhava para o seu jato particular, John Muse virou-se para Galperín e disse algo que este jamais esquecerá: “Se precisar de dinheiro, diga-me”.

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