Opinião

Pare, escute e olhe

André Ribeiro Pires, do Grupo Multipessoal*

Nos últimos dias, Portugal foi assolado pela Leslie, a maior tempestade ocorrida nos últimos 200 anos no nosso país e que ao percorrer o Atlântico, criou ansiedade e preocupação na população.

A indefinição sobre qual o ponto de entrada ou o tipo de impacto que iria causar, levaram a alguma descredibilização do acontecimento. Assisti em vários diretos nas televisões, algumas pessoas que aguardavam pelo momento em que a Leslie chegaria a Portugal e, em alguns casos, desiludidas pela fraca capacidade de destruição deste fenómeno natural. Augura-se a desgraça, temia-se o pior, mas como não aconteceu. Ficou um sentimento de desilusão e até de injustiça (!!!).

Estou seguro que este efeito é exatamente igual ao que se verifica nas empresas. Debate-se a transformação digital, a revolução industrial 4.0 ou ainda outros furacões mais criativos, mas a reação acaba por ser, muitas vezes, a arte de desafiar o futuro sem objetivo, sem rumo ou foco, só mesmo porque sim, como se fosse um fenómeno da natureza. É como ignorar um sinal de uma passagem de nível, quando o aviso sonoro indica que um comboio está a chegar.

É por isso que nas nossas empresas, liderar a transformação obriga a separar aquilo que é a inteligência racional, rodeada por dogmas, álibis e preconceitos, da inteligência emocional. Tal como referem John D. Mayer e Peter Salovey, psicólogos que introduziram este modelo, a inteligência emocional é “a habilidade de um indivíduo em monitorizar as suas próprias ações bem como as dos outros e utilizar a informação gerada para orientar o pensamento e atitudes de cada um”.

O controlo emocional, a orientação para objetivos, a capacidade de adaptação a novas realidades, a empatia, a capacidade de resolução de problemas influenciando os outros, são elementos essenciais que compõem o equilíbrio entre a mudança efetiva das ferramentas, processos ou forma de trabalhar e o compromisso dos ativos das organizações.

É crucial envolver e responsabilizar os indivíduos ao mesmo tempo que é promovida a mudança estrutural necessária. Não existem, com toda a certeza, casos de transformações bem sucedidas em que a tecnologia surja antes das pessoas. São estes elementos ativos que têm de desejar “o novo”. Cada indivíduo tem de ter uma noção clara de qual é o seu papel bem como qual é valor que será gerado para si próprio. É neste cenário que o líder tem de ser o exemplo e garantir o equilíbrio entre o hoje e o amanhã da sua organização.

Para mim, mais importante do que distinguir com antecedência uma noite de chuva misturada com rajadas de vento de uma enorme tempestade, é estar preparado para lidar com cada uma delas e isso só será possível com uma organização atenta, fortemente comprometida e orientada para o resultado final.


André Ribeiro Pires é Chief Digital & Information Officer do Grupo Multipessoal onde lidera a transformação digital da empresa. Estudou engenharia de sistemas multimédia e recentemente realizou uma pós-graduação em digital enterprise management, na Universidade Nova de Lisboa. Entre 2014 e 2018 liderou a área de inovação e desenvolvimento da Randstad Portugal, através da criação de produtos, soluções e novos modelos de negócio, bem como na gestão de projetos globais. Anteriormente, desempenhou funções na Portugal Telecom liderando vários projetos e equipas na área de customer excellence. 2006 marca o início da sua carreira como empreendedor estando envolvido em vários negócios digitais e tecnológicos. Assume-se como um acelerador que aplica a tecnologia na transformação e simplificação dos processos de negócios, proporcionando alta performance. Para André Ribeiro Pires o novo é mesmo normal.

*Chief digital & information officer do Grupo Multipessoal e membro da Equipa de Coordenação – Plataforma Portugal Agora

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