Opinião
África: Um continente sem esperança ou a terra de todas as oportunidades?
Em África, tudo é vivido com maior intensidade – o nosso sistema sensorial está sempre no limite, pela quantidade de estímulos que recebemos – o que nos leva a amar ou odiar, mas nunca a sermos indiferentes a África.
Esta intensidade é válida na nossa perceção da economia e do seu potencial. Tudo é amplificado, não há meio-termo, passa-se rapidamente dos oito aos oitenta. Em 2000, a revista The Economist considerava África como “um continente sem esperança”. Em 2011, a capa da mesma revista identificou África como “a terra de todas as oportunidades”.
Mas a época de crescente otimismo sobre o desenvolvimento de África esmoreceu. O ano de 2016 foi, dos últimos quinze, o pior ano de crescimento económico médio em toda a África. O Banco Mundial e o FMI reviram, em baixa, as suas previsões de crescimento económico para o curto prazo, nomeadamente nas maiores economias: África do Sul, Angola e Nigéria.
Os temas fundamentais que tornaram África a terra de oportunidades continuam intactos. Tem um dos mais ricos subsolos do mundo, cerca de um terço das reservas mundiais de recursos minerais: petróleo, gás natural, carvão, platina, titânio, ouro, diamante, cobre e urânio. Tem uma grande quantidade de terra produtiva disponível, uma população superior a 1 bilião de habitantes (para um total de 7 biliões da população mundial), na sua maioria jovens, que apresenta a maior taxa de crescimento mundial.
No entanto, para desbloquear todo este potencial económico e humano de África, é necessário investimento estrangeiro (capital e conhecimento), motivo pelo qual a velocidade depende dos “ventos” da Economia Mundial. Com estes a soprarem com menor energia nos últimos anos, devido à desaceleração geral das economias de mercado emergentes e, em particular, da economia chinesa, com os preços mais baixos das commodities e com o sistema sensorial no limite, a realidade é amplificada. África passa a ser novamente vista como um continente sem esperança, com o maior número de países no ranking dos mais pobres do mundo, com uma grande concentração de pobreza e o menor ritmo na redução da pobreza. Factos que, tal como as oportunidades, sempre foram uma realidade.
Os números do Investimento Direto Estrangeiro (IDE) mostram que o sentimento dos investidores abrandou um pouco e que os projetos de IDE diminuíram em número pelo segundo ano consecutivo, mas aumentaram acentuadamente em valor. O crescimento económico continua a ser resiliente em todo o continente, apesar dos ventos contrários. As perspetivas do crescimento em África continuam a ser superiores à média Mundial.
Contudo, um crescimento diferente, com países em diferentes velocidades – que o Fundo Monetário Internacional chamou de “Multispeed Growth”. Um fator chave foi a evolução estrutural do IDE em África na última década, que passou de uma alta concentração em países e setores de destino, para uma realidade de IDE muito mais diversificada. Apesar das incertezas atuais, as perspetivas de crescimento e investimento a longo prazo continuam válidas e positivas. A maioria das economias africanas está hoje numa posição fundamentalmente melhor do que há 15 anos e o crescimento geral permanecerá superior, em relação à maioria das outras regiões do mundo.
Mas o sentimento dos investidores em relação a África, como destino de investimento atraente, irá diminuir nos próximos anos, motivado mais por um mundo caracterizado por maior incerteza geopolítica e maior aversão ao risco, do que pelos fundamentos do investimento em África, porque esses continuam inalterados: os recursos naturais, a terra produtiva disponível e a sua população, na grande maioria jovem. A verdade é dura, mas é crua: África perdeu um pouco do seu glamour.