Opinião
Afinal o conteúdo não importa para nada
Imagine o primeiro encontro. O tempo a pensar na roupa. A psicologia das cores. O curto jogging umas horas antes para descomprimir. O banho terapêutico. O creme hidratante perfeito. O cuidado em cada ponta de cabelo. A meticulosa inspeção nos detalhes, do cinto ao sapato, a um qualquer outro pormenor. E o perfume, a 17mágica sedução invisível.
E, contudo, algumas horas depois, o incómodo de volta dos talheres… o silêncio na mesa… as mãos a rodopiar o pé do copo em silêncio, amiúde o ruído confrangedor em volta acentuando o momento doloroso… nada para dizer… Se ao menos pudéssemos ter pensado melhor no conteúdo!
É um facto que, de forma incauta, muitas marcas ainda se veem mergulhadas nesta dura realidade do digital. Preparam-se semanas e meses a fio, planeando os seus canais de comunicação de forma meticulosa e exímia, mas a dura realidade é que, nas redes sociais, não estamos senão num permanente primeiro encontro. Ou, sendo mais verdadeiro, num dia a dia rotineiro pós-primeiro encontro. Já em fase de namoro constante. Sem make-up todos os dias. Sem cuidados extremos no cabelo e na roupa. Tantas vezes com o perfume errado.
E o que é que faz a relação sobreviver?
Conteúdo.
Porque, afinal, é o conteúdo que nos faz manter a relação bem viva, que nos une pelos temas que nos preocupam, que nos faz falar das causas que nos movem, que nos dá ingredientes para nós mesmos falarmos pela marca, ou para que por ele possamos partilhar aquilo em que acreditamos, de que gostamos, o que queremos dizer aos outros: gostem também e juntem-se à tribo.
Afinal, o conteúdo não importa para nada. Porque, se importasse, veríamos, pelo panorama digital atual, a começar pela formação na área, alguma cadeira respeitante ao tema do content marketing mais presente. A título de exemplo, das 14 formações mais conhecidas de marketing digital no nosso país, apenas 5 contêm nos seus programas uma cadeira de facto dedicada ao tema.
Claro que a estratégia é fundamental. Afinal, toda a preparação é necessária para que aquele jantar romântico possa correr bem. Mas de nada valerá se a música não toca, se o vinho está quente, se todo o contexto foi desconcertado e, para piorar, se o tema de conversa é tudo menos sincero, verdadeiro, útil e interessante.
É como diz o nosso amigo sobre falar em público: “ninguém tem medo de enfrentar a multidão – do que toda a gente fica apavorada é de ficar sem nada para dizer”.