Entrevista/ “Acreditamos que vamos ser o player de financiamento alternativo de referência no nosso país”

Mafalda Duarte, CEO da Five Credit

“Temos o objetivo ambicioso de financiar até 300 milhões de euros nos próximos três anos”, afirma Mafalda Duarte, CEO da Five Credit, fintech que tem nas PME nacionais o seu target.

Apoiar as PME nacionais com financiamento é o propósito da Five Credit, fintech detida pela Circle Capital, e a primeira com um fundo de crédito aprovado pela CMVM para financiar diretamente as micro e pequenas empresas. Surgiu como uma solução de financiamento inovadora – e que visa viabilizar o crescimento das empresas de forma flexível, rápida, segura e 100% digital – que pode ser feita em poucas horas e, caso seja aprovada, a empresa poderá receber o financiamento em até cinco dias.

A Five Credit é liderada por Mafalda Duarte que em entrevista ao Link to Leaders partilha a sua visão do mercado financeiro, lembrando que o ecossistema fintech em Portugal tem-se afirmado nos últimos anos” e que, além disso, “tem sido uma aposta para um número crescente de start-ups que vão surgindo com soluções inovadoras para o setor financeiro”.

Como surgiu a ideia de criar a Five Credit?
A ideia da Five Credit surgiu durante a pandemia, num momento em que todos sentimos que seria necessário um restart da economia portuguesa e que não poderia existir momento mais oportuno do que este para trazer ao mercado português mais uma solução de financiamento e crescimento inovadora que permitisse às empresas obter um financiamento em cinco dias.

“A plataforma Five Credit foi desenvolvida com as tecnologias mais recentes, permitindo um processo completamente automatizado (…)”.

O que vos distingue das plataformas já existentes, nomeadamente das plataformas de crowdfunding?
Concedemos financiamento através  do primeiro fundo de crédito em Portugal, lançado pela Circle Capital SGOIC, e regulado pela CMVM, não existindo nenhum outro player no mercado com estas características. A plataforma Five Credit foi desenvolvida com as tecnologias mais recentes, permitindo um processo completamente automatizado, através da otimização da recolha e leitura da informação necessária ao processo de candidatura. É 100% digital desde a aplicação por parte do cliente, à decisão de financiamento e a todos os procedimentos KYC/AML realizados diretamente na plataforma.

Quais os montantes mínimos e máximos de financiamento? O prazo de financiamento é variável?
Atualmente, disponibilizamos dois  programas distintos de financiamento para micro, pequenas e médias empresas portuguesas com mais de três anos de atividade: o Financiamento a Médio Prazo (cinco anos para PME com mais de três anos de atividade; 25 mil até 500 mil euros); e o Financiamento a Curto Prazo para apoio a tesouraria (até três meses e até 250 mil euros).

Quais os fatores ou requisitos que podem impactar as condições de financiamento?
A Five Credit faz uma avaliação da empresa através dos dados financeiros e legais partilhados pela empresa candidata. Adicionalmente, avaliamos uma componente de ESG. Caso a empresa que obteve o financimento Five Credit melhore o seu “scoring de ESG” pode reduzir o custo de financiamento ao longo dos cinco anos de amortização do financiamento. O nosso objetivo é ajudar as empresas que estão alinhadas com o futuro da economia. Queremos ser um motor de crescimento para o tecido empresarial português.

Quanto tempo demora a aprovação do financiamento Five Credit?
A partir do momento em que a empresa completa a candidatura, com toda a informação necessária, irá receber uma proposta até cinco dias.

É necessária a apresentação de garantias para obter financiamento?
Não, não são solicitadas garantias reais.

O que é que as PME têm de fazer se quiserem obter financiamento através da Five Credit?
O processo de pedido de financiamento é simples e rápido. A empresa poderá visitar o site e entrar diretamente na plataforma e iniciar a sua candidatura online.

Que conselhos dá às empresas que queiram obter financiamento hoje em dia?
Devem procurar soluções de financiamento que cumpram as suas necessidades e que permitam que a empresa mantenha a sua atividade. Otimizar a estrutura de capitais da empresa é fundamental para o seu crescimento. Posicionamo-nos precisamente como um parceiro das empresas que procuram financiamento, garantido um processo simples no pedido e célere na tomada de decisão. Considero, também, que é muito importante a empresa ter a sua informação legal e financeira bem estruturada e organizada.

As necessidades, prioridades e hábitos dos consumidores continuam a mudar de dia para dia. De que forma isto representa um grande desafio para as fintech hoje em dia?
É notório que houve uma mudança profunda nas necessidades, nas prioridades, nos hábitos dos consumidores e na sua interação com o setor financeiro, o que obrigou as empresas a deixarem de olhar para o seu negócio de uma forma meramente transacional e a investir na relação com os seus clientes.

Este processo tem sido impulsionado por uma combinação de fatores – seja o aumento da digitalização, no geral, seja o crescimento do número de fintechs no mercado, ou mesmo a disponibilidade de investimento das empresas em tecnologia – acelerados pelo despertar de tecnologias como cloud, IoT, robótica, inteligência artificial ou blockchain, e que vieram oferecer serviços voltados para a experiência do utilizador. O que é válido para os consumidores, verifica-se também a nível empresarial.

O nosso target são as PME e o nosso propósito é apoiá-las com financiamento e uma experiência de acesso mais simples e ágil. Há espaço e a tendência é de crescimento. A nível global, um estudo do Boston Consulting Group (BCG), e da QED Investors estima que as receitas do setor fintech deverão crescer cerca de seis vezes até 2030, passando de 245 mil milhões de dólares para 1,5 biliões. Hoje esta indústria representa perto de 2% dos 12,5 biliões de dólares em receita global de serviços financeiros. Um número que, segundo o “Fintech Report 2023: Reimagining the Future of Finance”, poderá chegar aos 7%.

“E é às PME que damos respostas, apoiando com a possibilidade de acesso a financiamento simples e rápido”.

Como olha para o mercado fintech em Portugal, neste momento? Muito concorrencial? Com potencial?
O ecossistema fintech em Portugal tem-se afirmado nos últimos anos e tem sido uma aposta para um número crescente de start-ups que vão surgindo com soluções inovadoras para o setor financeiro. Só no ano passado, de acordo com o “Portugal Fintech Report 2023”, essas start-ups captaram mais de 65 milhões de euros e levantaram mais de 1,1 mil milhões de euros em investimento.

No caso específico do financiamento a empresas, vão aparecendo soluções inovadoras made in Portugal, como é o nosso caso. Lançamos o primeiro fundo de crédito para financiamento a empresas em Portugal, não existindo nenhum outro player no mercado com a mesma solução.

O mercado bancário tradicional tem sido, ao longo das últimas décadas, a solução principal de acesso a financiamento, mas o processo de desalavancagem a que assistimos teve um impacto nas PME. E é às PME que damos respostas, apoiando com a possibilidade de acesso a financiamento simples e rápido. De um modo geral, existe um grande potencial para as soluções alternativas de financiamento terem uma presença material no sistema financeiro português, tal como noutros países europeus.

Como vê a Five Credit daqui a cinco anos?
Neste momento, o nosso foco principal é dar a conhecer a Five Credit  às empresas portuguesas. Acreditamos que vamos ser o player de financiamento alternativo de referência no nosso país, porque temos o objetivo ambicioso de financiar até 300 milhões de euros nos próximos três anos, desenvolvendo diferentes produtos de financiamento que permitam dar resposta às necessidades do tecido empresarial português.

A Mafalda começou a sua carreira na banca de investimento como analista financeira, onde esteve envolvida na análise, estruturação e execução de financiamentos de projetos e empresas. Hoje é CEO da Five Credit. É fácil ser-se mulher no setor financeiro?
Sim, nunca senti que o género fosse uma questão no setor financeiro.

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