Entrevista/ “Acreditamos que a grande fatia do sistema financeiro passará a estar assente em tecnologia blockchain”

André Lages, cofundador da Lympid

“A promoção da literacia financeira é uma prioridade fundamental para capacitar os portugueses a enfrentar desafios financeiros”, afirma André Lages, cofundador da Lympid.

Simplificar o acesso a produtos financeiros na blockchain, com um foco na integração entre finanças tradicionais e tecnologias emergentes, é core da plataforma portuguesa Lympid, uma fintech que nasceu em Braga pela mão empreendedora dos primos André e João Lages, mas que se assume como um projeto europeu, que desde o lançamento publico em junho do ano passado, tem vindo progressivamente a mobilizar utilizadores, nacionais e estrangeiros. Atualmente, soma 1500 utilizadores com registo concluído, e mais de 5 mil utilizadores a finalizar o processo de registo.

Com inúmeros projetos em agenda, André Lages revelou que “a Lympid está a trabalhar no lançamento de um novo produto de tokenização de relógios de luxo, feito absolutamente inovador a nível mundial”.

Numa altura económica e financeira tão desafiante, o que é que os portugueses podem/devem fazer para serem financeiramente mais competentes e arriscarem mais?
Certamente a promoção da literacia financeira é uma prioridade fundamental para capacitar os portugueses a enfrentar desafios financeiros, tão característicos de tempos de maior instabilidade como aquele que atualmente estamos a viver, de forma mais informada e, portanto, mais apta. Apesar de no início a diversidade de conceitos associados ao mundo das finanças poder parecer desafiante, não há volta a dar: só assim é possível tomar decisões orientadas para o sucesso. Neste sentido, existem cada vez mais meios de comunicação especializados, blogs e fóruns dedicados a estes temas e perfeitos para esclarecer dúvidas e informar face a temáticas desta importância.

O que não pode faltar para que os portugueses possam começar 2024 com bons investimentos? E cuidados que um utilizador não deve descurar ao investir na blockchain?
Tal como referido anteriormente, investir de forma informada e ponderada, compreendendo diferentes opções de investimento e avaliando o seu risco, é fundamental. Sabemos que esta não é uma realidade para todas as pessoas, mas ter um fundo de emergência pode ajudar a trazer alguma segurança neste processo.

Vivemos num mundo em constante mudança e quando o tema são investimentos o cenário não é diferente. Neste sentido, torna-se absolutamente fulcral para todos os que querem entrar em 2024 entrando também neste ramo, garantir que se acompanha devidamente o mercado e respetiva envolvente. Já existem várias plataformas que permitem uma visão altamente completa e detalhada do progresso dos mercados, pelo que, a meu ver, uma estratégia fácil e prática pode ser procurar aderir a um destes apoios.

Além disso, procurar distribuir o montante destinado a ser investido por uma variedade de diferentes ativos, ajuda, uma vez mais, a reduzir o possível impacto que a imprevisibilidade dos mercados pode vir a ter na carteira de alguns investidores. Desde os ativos mais voláteis até àqueles que permitem rentabilidades passivas mais interessantes, dispersar o capital ajudará não só a reduzir o risco como a aumentar significativamente as possibilidades de alcançar investimentos bem sucedidos.

Na sua opinião, qual a melhor estratégia para descomplicar e democratizar o acesso às finanças descentralizadas?
Começando por uma educação financeira mais acessível, é fundamental colocar ao alcance de todos materiais claros e simples sobre os princípios das finanças descentralizadas, tornando os conceitos compreensíveis para todos. Desenvolver interfaces intuitivas e simplificar os processos são aspetos cruciais para uma maior adesão a esta nova forma de investimentos. A redução de etapas complexas e a criação de acesso direto com apenas uns cliques são estratégias que consideramos fulcrais para eliminar barreiras tecnológicas e facilitar a participação até dos que menos dominam estas temáticas.

O que distingue a vossa plataforma?
Existem vários fatores que contribuem para a distinção da Lympid no panorama das fintech e cripto, não apenas a nível nacional, como internacional. Um dos nossos principais focos prende-se com a integração entre finanças tradicionais e tecnologias emergentes, tais como blockchain e finanças descentralizadas. Ao oferecermos contas IBAN individuais em conjunto com o acesso direto a produtos de investimento digitais, damos a todos os nossos utilizadores a possibilidade de usufruirem do melhor de ambos os ecossistemas.

Concebemos a plataforma da Lympid para ser tão fácil de utilizar quanto qualquer aplicação de um banco tradicional com vista a tornar o acesso a produtos de rentabilidade na blockchain tão simples quanto realizar uma transferência bancária, pelo que procuramos sempre que esta seja o mais simplificada e intuitiva possível. Além disso, ao estabelecermos uma ligação direta entre as diferentes moedas, eliminamos etapas intermediárias complexas e que, muitas vezes, acabam por desmotivar as pessoas. Neste sentido, primamos também pela autonomia dos nossos utilizadores que todos têm sempre total controlo e acesso sobre os seus fundos de investimento.

“O que começou como uma curiosidade tecnológica (…) rapidamente evoluiu para um fenómeno global reconhecido (…)”.

A Lympid oferece às pessoas a possibilidade de aceder diretamente a produtos financeiros baseados em tecnologia descentralizada na blockchain. Os portugueses já estão familiarizados com estes conceitos?
Sim, a verdade é que o atual cenário de crise e instabilidade financeira e política, faz com que cada vez sejam mais as pessoas que procuram novas formas de rentabilizar o seu dinheiro. Diria que, nos últimos anos, especialmente o setor das criptomoedas e das finanças descentralizadas tem atravessado uma transformação profunda e acelerada. O que começou como uma curiosidade tecnológica, sobretudo com o surgimento da Bitcoin, rapidamente evoluiu para um fenómeno global reconhecido, deixando de ser apenas um nicho para entusiastas e passando a ser considerados ativos financeiros sérios.

Que balanço faz do desempenho e da aceitação da plataforma desde o lançamento público, em junho de 2023, até agora? Conseguiram ultrapassar os 10 milhões de euros em volume de negócio, previstos inicialmente?
A aceitação tem sido bastante positiva. Contamos, ao dia de hoje, com 1500 utilizadores com registo concluído, o que se traduz num crescimento de 600% quando comparado com os valores do trimestre anterior, e mais de 5 mil utilizadores a finalizar o processo de registo, um crescimento de 250% face ao mesmo período.
De um modo geral, tanto este número de utilizadores quanto o nosso volume de negócio estão alinhados com as nossas expetativas, tendo em conta que não completámos ainda um ano desde o lançamento da plataforma. Estamos, assim, no bom caminho para atingirmos esse volume de 10 milhões de euros a curto-prazo.

“(…) a generalidade da equipa concentra-se em Braga (…)  mas a intenção é crescer e ter presença de recursos humanos também em todo o espaço europeu”.

Vamos ver a Lympid a expandir-se de Braga para o mundo?
A Lympid é, desde o seu lançamento, um projeto europeu, com utilizadores de todos os países da União Europeia, como também Reino Unido, Suíça, Islândia, Liechtenstein e Noruega, contando já com utilizadores de todos estes países. Para já é facto que a generalidade da equipa concentra-se em Braga, a nossa cidade-natal, mas a intenção é crescer e ter presença de recursos humanos também em todo o espaço europeu.

“(…) estamos a trabalhar no lançamento de um novo produto de tokenização de relógios de luxo (…)”.

Que planos estão no vosso horizonte a esse nível? Novos produto, ronda de investimento…
Estamos focados na melhoria da nossa plataforma para que a nossa comunidade de utilizadores continue a crescer e para que o serviço que oferecemos tenha cada vez melhor qualidade. Além disso, diria que o objetivo primordial neste momento será atingir o breakeven.

Quanto aos produtos disponíveis na plataforma, estamos a trabalhar no lançamento de um novo produto de tokenização de relógios de luxo, feito absolutamente inovador a nível mundial. Vamos começar com a listagem de um Rolex Daytona PANDA, sendo que a grande diferença para o mercado tradicional – a tokenização do relógio – vai permitir que vários utilizadores sejam proprietários de parte do mesmo, isto é, a propriedade fracionada por meio de tokenização. Assim, é possível permitir que investidores e utilizadores com menor capital participem de itens colecionáveis e de alto valor, beneficiando das valorizações desses mesmos bens.

Como vê o futuro da relação entre as ditas finanças tradicionais e as finanças descentralizadas que as plataformas fintech proporcionam, sobretudo nos domínios da blockchain?
A curto e médio prazo antevemos uma relação de desenvolvimento conjunto e em paralelo, com as finanças tradicionais a adotarem as características inovadoras e mais- valias das finanças descentralizadas e estas, por sua vez, a terem de se sujeitar e adaptar a princípios e leis estabelecidas para o setor financeiro tradicional. Ainda haverá necessariamente uma maior interação entre ambas, com passagem de valor entre os dois sistemas, pelo que o futuro passa por ambos aprenderem com a outra parte o que cada uma tem de melhor.

Contudo, a médio e longo prazo, acreditamos que a grande fatia do sistema financeiro passará a estar assente em tecnologia blockchain. Porém, esta convicção não se prende apenas com o setor financeiro, mas também com a generalidade dos sistemas de registo de informação ao serviço dos mais variados setores da economia e serviços. Trata-se, na verdade, de uma tecnologia com potencial disruptivo em todos os setores da sociedade.

“(…) percebemos também que a educação financeira era ainda um enorme desafio (…)”.

Como surgiu a ideia de lançar a Lympid? Como e porquê um projeto desta natureza?
O interesse e gosto pelo mundo das finanças descentralizadas é algo que eu e o meu primo [João Lages] temos em comum há já largos anos, inicialmente atraídos pelo fenómeno das criptomoedas. Estávamos – e estamos – a assistir a uma mudança significativa de paradigma, mas com isto percebemos também que a educação financeira era ainda um enorme desafio, especialmente quando falamos destas temáticas à partida mais complexas.

A Lympid acabou por surgir como resposta a esta ambição de tornar as vantagens das novas tecnologias de blockchain acessíveis e compreensíveis para todos. Os produtos disponíveis na nossa plataforma são cuidadosamente selecionados pela equipa para garantir a melhor experiência de investimento, independentemente do nível de conforto ou conhecimento que os nossos utilizadores tenham da área. A nossa missão é simples: queremos proporcionar uma opção acessível e confiável para os investidores, especialmente neste contexto de juros de dívida bancária altos e consequente menor poder de compra pelo qual tantas famílias estão a passar.

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