Opinião
A pessoa certa no lugar certo?

Fala-se muitas vezes “entre corredores” corporativos e até em tertúlias de final de dia, num café entre colegas e amigos: “é a pessoa certa no lugar certo”! ou, infelizmente é “a pessoa errada no lugar errado”!
Iniciemos por um conselho, genuíno de quem vivenciou bem este tema: rodeie-se de pessoas talentosas, com princípios e valores e depois coloque-as nos lugares certos (funções/responsabilidades).
Este artigo explora um pouco este tema, que parece simples, mas pode tornar-se uma grande “dor de cabeça” para as lideranças e consequentemente para o crescimento das organizações, mas, sobretudo, para uma cultura corporativa saudável e equilibrada, onde todos gostamos de estar e trabalhar.
Como escreveu T. Roosevelt “the best executive is the one who has sense enough to pick the good people to do what he wants done, and self-restraint enough to keep meddling with them while they do it”.
Ter a possibilidade de escolher a equipa é um grande privilégio e de grande responsabilidade na verdade. Por isso, caso tenha essa possibilidade, escolha de forma cuidadosa e correta. Mas como podemos definir “pessoas certas, nos lugares certos”? E o que são as “pessoas certas”? Varia de organização para organização, porque, a cultura é diferente para umas e outras.
Por isso, “pessoas certas” são aquelas que praticam e para quem não é surpresa os valores e princípios centrais da sua empresa. Aqueles princípios que definem a cultura e forma de estar da empresa – os chamados “core values”.
Alguns exemplos de “core values” podem ser “fazer o que prometemos fazer”, “ajudar em primeiro lugar”, “a satisfação do cliente é a nossa prioridade”, “melhoria contínua”, “humildemente confiantes”, “fazer sempre a coisa certa”, e assim por diante.
As “pessoas erradas” são aquelas a quem estes valores e princípios causam estranheza, constante refutação ou prevaricação. Porquê? Porque simplesmente não acreditam neles.
As lideranças fortes, têm um “set” de “core values” que definem a sua cultura e que atraem “as pessoas” com os mesmos valores e “repelem” as que não têm os mesmos valores.
E sabem qual a boa notícia? (pelo menos para mim). Quem não está alinhado com os “core values” não vale a pena “resgatar” ou “ensinar”. É impossível mudar os valores e princípios de uma pessoa. Por isso, ou tem ou não tem. Isto facilita em muito quem queremos contratar e ter nas nossas equipas. Por isso, é de extrema relevância a liderança das empresas saber, com rigor e de forma honesta e genuína, quais os seus valores e princípios e realizar um verdadeiro “assessment”. Uma espécie de “people analyzer”, para os quais já existem ferramentas interessantes para o fazer. Este “medidor” permite verificar o alinhamento de princípios e valores entre pessoas que nela trabalham ou virão a trabalhar e os valores e princípios definidos pela liderança da corporação.
Agora vamos explorar “o lugar certo”. O “lugar certo” é uma função de reporte. Este lugar tem normalmente cerca de 5 a 7 principais responsabilidades que sumarizam o seu nível de “accountability” para a posição. É da total responsabilidade da liderança avaliar, se cada uma das pessoas tem efetivamente as competências para a respetiva função.
Porque se torna importante realizar esta avaliação e alinhamento de “pessoas certas” (core values) nos “lugares certos” ( funções/responsabilidades/competências)?
Porque lidamos diariamente com “pessoa certa, lugar certo”, “pessoa certa, lugar errado”, “pessoa errada, lugar certo” e “pessoa errada, lugar errado”. Em especial, os últimos três, consomem tempo, energia, chegando a ser mesmo “tóxico” para a empresa: tendência para prevaricação constante, desalinhamento cultural e “boicote” constante na operação e gestão. E pior, “as pessoas certas, nos lugares certos”, porque têm muitas mais oportunidades no mercado, tendem a sair, porque pouca atenção lhes é dada, e são importunadas pelas outras três situações. As animosidades passam a ser a regra (infelizmente). A organização perde talento, mas sobretudo, começa a desvanecer-se a cultura corporativa.
Por isso, imagine, por um minuto, o que seria a sua organização com “as pessoas certas, nos lugares certos”?
Em todas as situações, por experiências que passei e até vivo atualmente, mudar o estado de “pessoa certa, lugar errado” para “pessoa certa, lugar certo” tem um efeito dominó, transformacional e energizante na equipa, “contaminando” positivamente a cultura da organização, aumentando a produtividade das equipas, a sua motivação e propósito.
Estas situações podem ser evitadas se tomarmos atenção ao processo de recrutamento para a organização. Muitos problemas e “issues” futuros são evitados. Lembre-se “pessoas certas, nos lugares certos” são uma vantagem competitiva.
Parafraseando T. Roosevelt, com quem iniciamos este artigo, questione-se: é um líder que tem sensibilidade suficiente para escolher boas pessoas (que partilham os seus valores, o conseguem praticar, que o querem e que têm capacidade) para fazer o que quer que seja feito, e autocontenção suficiente (como em deixar ir e delegar) para não se intrometer com elas enquanto o fazem?