Opinião
A persona AI como líder?

Disclaimer inicial: sou totalmente a favor da utilização da inteligência artificial. É impossível parar este movimento e será virtualmente impossível regular as ramificações.
Não é simples, neste momento, regular as suas ações e ramificações. Muito menos sabendo que os aparelhos, PCs e telemóveis, espalhados pelo mundo fora conseguem formas de acesso que, mesmo se sancionadas (o impedimento que surgiu de alguns países), têm formas “shark” de acesso podendo chegar às aplicações abertas se assim o entenderem.
O generative AI e todos os seus potenciais estão nas nossas mãos e com uma evolução a um ritmo avassalador. O generative AI refere-se a uma variedade de técnicas e algoritmos que são capazes de gerar conteúdo novo e original. As áreas podem passar, numa sinopse rápida (entre várias outras que virão rapidamente e que estarão muito em breve disponíveis):
i) geração de imagens, arte, design gráfico, ilustrações, personagens de jogos, entre outros;
ii) geração de textos como histórias, poemas, músicas e até mesmo notícias, entre outros;
iii) geração de músicas originais com base em padrões e estilos pré-existentes, originando novas melodias, novas formas harmónicas e até mesmo escrever letras;
iv) geração de vídeos realistas, incluindo animações, efeitos visuais e até mesmo deepfakes;
v) geração de design de produtos como roupas, móveis, joias e até mesmo arquitetura;
vi) geração de simulações e modelação de fenómenos complexos. Simulação de fluidos, previsões de procura, simulação de tráfego, entre vários outros;
vii) geração de edição e melhoria de imagens existentes e emprego de técnicas como a restauração de fotos antigas, a melhoria da qualidade de imagens de baixa resolução e a remoção de ruídos.
Não deixam de ser, porém, assustadoras as áreas possíveis.
Não deixam de fazer estremecer os vários profissionais ligados a cada uma destas áreas.
Não deixam de ser úteis reflexões sobre como usar e onde usar e em que condições, mesmo sabendo que é potencialmente impossível regular este movimento. Mesmo impedindo, é sempre possível, à data de hoje e com os aplicativos e formas de “lá chegar que temos”, ir buscar o melhor destes conteúdos “gerados”.
A questão maior põe-se na substituição efetiva do homem pela persona AI que lhe possa suceder.
Ouvi alguém, ou li em algum lado, que o maior perigo é a especiação (criação de uma espécie proto-humana ou humana-artificial resultante de má utilização destas tecnologias) que se substitua ao homem.
Como em todas as revoluções, fogo, roda, vapor, eletricidade, computador, internet, entre milhares que existiram, tudo poderia ter sido usado para o mal. E pode. E muitas vezes é. A questão essencial é saber que o fogo destrói, a roda pode esmagar, o vapor queimar, a eletricidade fazer explodir, e por aí fora. Como a inteligência artificial ganhou algumas capacidades para manipular e gerar palavras, sons ou imagens. A AI, pode dizer-se, “pirateou o sistema operacional da nossa civilização”. Parece-me uma visão fatalista. Haverá algum fundamento nisto?
Pretendemos usar a AI ao nosso serviço e como, sempre regulada pelo bom senso e capacidade de adaptação do homem (não acredito em nenhum regulador capaz de regular este fenómeno) ou se pretendemos que ela, a AI, se “transforme” na nossa liderança. Criando, também, uma especiação de trabalhadores-máquina que substituirão os humanos.
Como em tudo na história da humanidade primeiro vamos passar do 8 ao 80. Para depois ficarmos no meio, na virtude do 44.
Pergunta: no extremo, i.e., no 80, alguém aceita ter por líder uma máquina? Alguém aceita trocar um colega por uma máquina? Ainda por cima sem salário e apenas vivendo de manutenção? Alguém aceita ser liderado por uma máquina? Ou vamos preferir – a nosso bem – continuar a ter o homem, imperfeito homem, como centro da humanidade e incorporar mais uma revolução? Uma revolução à nossa maneira?
Estou certo de que no momento em que aparecer o líder persona AI o homem tratará de tomar conta do assunto. Como sempre fez durante toda a humanidade. Não há, pois, razões para medos. Há, sim, razões para estudarmos gernerative AI e sabermos usar ao máximo o que nos é dado. Porque o futuro do trabalho passará por saber usar estas tecnologias. Destroem-se empregos. Criar-se-ão outros. Sem que haja especiação. O homem continuará a ter o papel de homem no meio de tudo isto.