Opinião

A imprevisibilidade é inimiga da Economia

Rodrigo Gonçalves, Managing Partner da PTG Portugal

A instabilidade política em Portugal gera incerteza e o impacto poderá ser significativo nos mercados e nos investidores, se a crise política se prolongar por muito mais tempo.

Mesmo tendo já o Presidente da República marcado as eleições legislativas para 30 de janeiro de 2022 estamos perante um cenário de enorme incerteza. Em qualquer economia o essencial é a estabilidade e é isso que os investidores privilegiam em detrimento da incerteza e instabilidade. No caso de Portugal não se foge à regra e a perceção para quem quer investir é hoje de que Portugal é um destino financeiramente inseguro.

Prolongar esta situação de estar sem orçamento não trará nada de bom a um Portugal já por si com dificuldades estruturais profundas e outras tantas conjunturais, difíceis de ultrapassar.

As consequências económicas desta instabilidade serão graves e as agências de notação financeira poderão rever em baixa o rating da República e como consequência direta os juros da dívida pública sobem inevitavelmente.

Isto terá impacto nos juros da dívida pública portuguesa que, apesar de tudo, tem sido mais ou menos controlada, mas que neste cenário poderemos deitar tudo a perder num par de meses.

Aqui temos também de considerar uma provável alteração no “rating” de Portugal, que se o resultado das eleições não trouxer uma maioria parlamentar que respeite os objetivos de consolidação orçamental de médio prazo, será preocupante. Aliás, para a economia portuguesa, nesta fase, não seria nada positivo que os partidos mais à esquerda ganhassem influência no novo cenário parlamentar que possa advir das eleições, isto porque uma governação mais à esquerda pode dar sinais errados às agências de rating, que estão a observar atentamente.

Importa que o quadro político fique o mais claro possível no mais curto espaço de tempo e importa ainda dar um nível mínimo de previsibilidade em termos da política fiscal, em termos de leis laborais, em termos de políticas económicas e em termos de investimentos públicos futuros.

Quanto aos fundos provenientes do PRR, que são vitais para Portugal, a sua execução não pode ser comprometida com este cenário de instabilidade sob pena de Portugal perder alguns dos apoios definidos nesse Plano.

Há projetos que precisam de aprovações de natureza política e havendo um cenário de imprevisibilidade poderemos ver adiadas algumas decisões até que exista um novo Governo, e mesmo depois, até que exista uma maioria parlamentar estável.

Quanto ao PRR a Comissão Europeia já deu nota de que considera que “todas as partes envolvidas nas várias reformas definidas pelo Executivo português têm de assumir as suas responsabilidades, incluindo o Parlamento, e que atrasos a este nível podem comprometer o pagamento de uma das tranches do PRR”.

Para Portugal este é um tempo em que a economia, as empresas, os investidores e os portugueses em geral têm um cenário de imprevisibilidade que poderá atrasar a recuperação que se poderia prever em alguns setores. Estamos a sair de uma pandemia que teve consequências dramáticas, com especial impacto nas economias mais frágeis como a portuguesa.

Agora deveria ser tempo de estabilidade e de início de um processo de desenvolvimento sustentado para recuperar a economia e voltar a dar ânimo aos empresários e aos trabalhadores. Mas, ao contrário, entrámos num ciclo de crise que não augura nada de bom e revela alguma desorientação dos responsáveis políticos.

O Ministro da Finanças disse recentemente que, “Portugal não tem, neste momento, ao contrário de outras crises, um problema de finanças públicas. É um país com credibilidade internacional a esse nível…”.

No entanto, a perceção geral é cada vez mais de que, em poucos dias, tudo pode mudar e Portugal poderá voltar a estar em maus lençóis estando já sob a vigilância atenta dos mercados que, como bem sabemos, são cruéis e pragmáticos.

Devendo ser otimistas temos de ser realistas. Com o cenário que temos hoje só nos cabe esperar o melhor, mas devemos acautelar-nos para momentos piores.

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