A gigante de Silicon Valley que coloca empresas na história

Sequoia Capital é uma das investidoras de capital de risco mais célebres e duradouras de Silicon Valley. Investiu em empresas como a Apple, Cisco e Google e hoje, com 44 anos de história, traça um percurso pautado por sucesso, mas também por falhanços.
Provavelmente, hoje já trocou ideias pelo Whatsapp e passou pelo Linkedin ou pelo Facebook, talvez usando o seu iPhone. Fez pesquisas no Google, viu vídeos no Youtube e ralhou com os miúdos sempre agarrados ao Snapchat. Na última semana, talvez tenha feito pagamentos por Paypal, partilhado documentos ou guardado fotos na sua conta do Dropbox e até publicado algumas delas no seu Instagram.
Pois é. O que se calhar nem todos sabem, é que há um denominador comum que acreditou em todas estas ideias, arriscou e investiu. Esse denominador comum chama-se Sequoia Capital, uma investidora de capital de risco criada em 1972, nos EUA, pelo imigrante italiano Don Valentine, filho de um camionista, que chegou com 11 anos ao país.
Era executivo de vendas e marketing na indústria de chips de Silicon Valley, quando decidiu experimentar a via do capital de risco. Acabou por perceber que tinha olho para identificar mavericks capazes de criar grandes empresas, como aconteceu com o jovem Steve Jobs de 22 anos, em quem investiu, apesar de ter achado que ele tinha um cheiro estranho e lhe recordava o revolucionário vietnamita Ho Chi Minh.
Ainda hoje o low-profile da Sequoia Capital é intencional, procurando manter a equipa pequena e focada nas empresas que seleciona criteriosamente para investir. Tal como a árvore com que partilha o nome, a maior do mundo em termos de volume, esta Sequoia, fundada no Parque Nacional da Sequoia, na Califórnia, é hoje gigante. Esta localização talvez tenha inspirado Don Valentine, por personificar o sonho que então perseguia e estava a tentar materializar.
Este gigante começou em 1972 e investiu, ou foi parceiro, como gosta de apelidar o trabalho que desenvolve com os empreendedores, em empresas que, no global, contam hoje com um mercado público avaliado acima dos 1,4 triliões de dólares (cerca 1,27 triliões de euros).
Entre os investimentos da Sequoia, encontramos nomes como: Scanntech, Airbnb, Apple, Aruba Networks, Google, YouTube, Klarna, Zomato, PayPal, Instagram, Medallia, Meraki, Capillary Technologies, Cisco Systems, Oracle, Electronic Arts, Skyhigh Networks, TuneIn, Yahoo!, NVIDIA, Lattice Engines, Navigenics, Cotendo, Atari, Ameritox, Kayak, Meebo, Admob, Knowlarity Communications, Followap, WhatsApp, Zappos, Adallom, Seculert, Percolate, Green Dot, LinkedIn, Indeni, Skyscanner, Kontera, Relcy e Nubank.
Em 1999, Elon Musk, cofundador da Paypal, demorou 30 minutos a convencer Michael Moritz a investir, tendo a equipa recebido 5 milhões de dólares (cerca de 4,5 milhões de euros) ainda antes dos documentos legais estarem assinados.
Este gigante do investimento global conta hoje com mais de 1 250 investimentos em mais de 700 empresas, com 58 IPOs e 170 aquisições, numa angariação acima dos 4,12 biliões de dólares (3,74 mil milhões de euros), a partir de Menlo Park, na Califórnia.
A Sequoia investe com capital de risco principalmente em Seed, Early Stage Venture e Later Stage Venture, em empresas do setor energético, financeiro, empresarial, da saúde, internet e em startups de serviços mobile. Os valores habituais variam entre 1 milhão e 100 milhões e especialmente na China, Índia, Israel e Estados Unidos da América.
Don Valentine foi um dos investidores iniciais da Apple Computer (AAPL), Atari, Cisco Systems (CSCO), LSI Logic (LSI), Oracle (ORCL) e Electronic Arts (ERTS).
O seu investimento mais recente foi de 25 milhões de dólares (cerca de 22,72 milhões de euros) na NewsHunt, uma empresa de e-books e serviço noticioso sediada em Bagalore, na Índia. O investimento foi feito em conjunto com a Matrix Partners India, a Falcon Capital, a Omidyar Network e a Matrix Partners num total de 83 milhões de dólares (cerca de 75 milhões de euros) em três rondas de investimento.
As lições do falhanço
Mas, como tudo na vida de quem arrisca, umas vezes ganha-se e outras vezes perde-se. Também a Sequoia Capital regista percalços na história da empresa, como a perda de 25 milhões de dólares (aproximadamente 22,72 milhões de euros) na Color, uma app de fotografia que acabou por vender com grandes perdas à Apple.
Para a Sequoia, é mais preocupante não terem fechado negócios, por não terem conseguido ver neles potencial para fazer história, do que apostar em projetos que vão correndo mal pelo caminho. Foi o caso do Pinterest e do Twitter.
Com o Twitter, aprendeu a lição de não estar presa a ter de ficar com 20% a 30% das startups, o que a levou na altura a não fechar negócio com Jack Dorsey. Hoje a Sequoia já aceita percentagens inferiores, desde que com um valor elevado, e apenas quando se trate de startups verdadeiramente extraordinárias.
Com a Apple, aprendeu a prolongar o tempo de investimento, depois de, em 1978, ter vendido a sua participação na empresa 18 meses após a ter adquirido. Hoje pode investir e manter o fundo de investimento até 17 anos. No caso da Google, manteve as ações durante dois anos depois desta ter passado a ser cotada em bolsa.
Fica na sua história uma reunião com Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook, em que este chegou atrasado e com calças de pijama, a propor um negócio – o Wirehog -, que acabou por ter investimento da Accel Partners. Hoje, mantêm relação através do investimento no Whatsapp e no Instagram.
A Sequoia apenas procura os espíritos criativos, os desfavorecidos, os corajosos e determinados, os desafiadores e de livre pensamento e os lutadores para serem os seus parceiros. Não quer ser investidor de qualquer um, mas apenas daqueles em que encontra potencial e que aceita a sua postura direta, sempre numa linha de trabalho em equipa e nunca de exibicionismo.
A sua tónica está em nunca abandonar as lições aprendidas, em ter sempre uma equipa pequena de pessoas cujos pontos fortes se complementam, bem como em manter algum pro bono a organizações não lucrativas, que acredita que os pode ajudar a dar sentido ao que faz e ao trabalho que desenvolve.
Não gosta de ser chamada de investidor, mas sim de parceira de longo prazo, tendo proibido duas palavras no seu léxico, “negócio” e “saída”, por acreditar que não é essa a base do seu trabalho.
“Ajudamos os audazes a construírem empresas que ficam na história.” É assim que a Sequoia Capital se define e tem como linha de operações.
Até onde chegará este gigante americana e qual será a próxima empresa que colocará na história?