Opinião
A escola dos afetos

No final deste ano letivo despedi-me daquela que foi a minha paragem do dia nos últimos 15 anos! Relembro com imensa saudade o dia em que deixei a minha filha de apenas cinco meses nos braços da educadora. Entre um misto de sentimentos, percebi desde o primeiro momento que aquele era um lugar seguro. Que ali ela estava bem!
Entre aquele momento e o dia de hoje, muitas coisas aconteceram na minha vida. A bebé que deixei pela primeira vez, já é uma adolescente, e a minha segunda filha diz agora adeus àquela que foi a sua escola nos últimos 10 anos.
Naquela escola começaram a desenvolver-se como seres humanos e foi ali que tiveram as primeiras interações sociais, fora do círculo da família. Foi ali que começaram a desenvolver o conceito de amizade, que tiveram as suas primeiras desilusões, assim como enormes alegrias.
Desenvolveram a linguagem, experimentaram a arte, começaram a escrever, pisaram o palco, brincaram com os números e aprenderam como relacionar-se com o mundo à sua volta. Mas a verdade é que toda esta aprendizagem só foi possível devido ao enorme afeto que desenvolveram com educadores e professores.
Aqui testemunhei aquilo que muita da literatura sobre aprendizagem refere. Não existe aprendizagem sem afeto! Como seres completos e unos que somos, não é possível desassociar o desenvolvimento cognitivo do emocional. Para aprenderem, os alunos precisam do estímulo dos seus professores. Um professor que fala com entusiasmo e paixão e mostra afeto pelos seus alunos, ganha a sua admiração e motiva-os a quererem aprender.
Os professores têm também um papel importantíssimo no desenvolvimento da auto-estima e confiança dos seus alunos. Acreditar neles, mesmo antes deles próprios, faz com que visualizem um futuro de realizações para si próprios.
Vi isto acontecer vezes sem conta com as minhas filhas. A vontade de não desiludirem era um enorme estímulo para se ultrapassarem. Na realidade, o que mais as estimulava não era o resultado académico. Aquilo que era verdadeiramente importante era a relação e o facto de poderem receber um elogio e um abraço por parte do professor.
Em sentido oposto, testemunhei várias vezes no âmbito Shape Your Future, situações em que alunos que não admiram um professor acabam por se desligar e muitas vezes abandonar caminhos porque se desencantaram com uma disciplina. E a verdade é que quando se aprofunda a questão percebe-se que esse desencanto está muitas vezes relacionado com uma relação mais difícil com um professor.
É inegável que os professores têm um papel fundamental na vida dos nossos filhos. Quantos de nós não conhecem histórias de pessoas que seguiram determinados caminhos inspirados por um professor. Desde a Ciência, à Arte, passando pelas Humanidades ou Matemática, estas histórias estão por todo o lado.
Contudo, aquilo que ouvimos todos os dias é que o desencanto com a profissão é grande. As novas gerações não se sentem motivadas pela profissão, os professores mais antigos estão a chegar à idade da reforma, os professores em meio de carreira estão desgastados e cansados, e corre-se um risco enorme de não existirem professores suficientes nos próximos anos.
Os métodos de ensino tradicionais persistem, as metas curriculares parecem estar desajustadas, o sistema de avaliação continua a basear-se no saber, esquecendo o ser. Os professores queixam-se de uma carga burocrática imensa que não lhes deixa tempo para desenvolverem uma verdadeira relação com os seus alunos.
Entre professores desgastados e alunos desmotivados, vamos alimentando um sistema em que ninguém ganha. E a verdade é que, tal como os alunos necessitam de afeto para aprender, os professores precisam de afeto para se motivarem. E é na simbiose desta relação que podemos desenvolver seres humanos mais completos e felizes.