Opinião

Marketing do amanhã? Prognósticos, só no fim!

Pedro Celeste, diretor-geral da PC&A

Esta frase lapidar de um futebolista poderia aplicar-se à grande maioria dos economistas, analistas financeiros e a todos aqueles que prevêem o futuro.

Em marketing não é diferente e corre-se sempre o risco de perspectivar algo que pode registar desvios significativos. Ainda assim, vale a pena antecipar algumas das tendências que cruzam mais directamente com as atividades conexas ao marketing.

Segundo a PwC, os investimentos em media tenderão a crescer 5% em 2018, atingindo 2 mil biliões de dólares, sobretudo, por força do crescimento do marketing digital e, em particular, do vídeo, que crescerá cerca de 15%. São boas notícias para o Youtube, Netflix ou Amazon Prime Vídeo, sobretudo, se tivermos em conta o potencial crescimento que ocorre na China e Índia.

Também o investimento em gamification e na realidade virtual tenderão a crescer acima dos 10%. O próprio Facebook já anunciou o lançamento de óculos de realidade virtual, o Oculus Go, a 199 dólares. ( https://www.theguardian.com/technology/2017/oct/11/oculus-go-virtual-reality-facebook).

De acordo com a consultora Magna Global, os investimentos publicitários em suportes digitais continuarão a crescer a bom ritmo, com o mobile marketing a liderar a taxa de crescimento, com 24%, em 2018. Na realidade, pela primeira vez, assistiremos à ultrapassagem do investimento publicitário digital (38%) relativamente ao investimento em televisão (36%). No mesmo sentido, o investimento em media search ultrapassará a publicidade na imprensa escrita, que continua a encolher a uma taxa prevista de 3%.

Esta tendência tenderá a acentuar-se, uma vez que, à semelhança dos nativos digitais, que nasceram e cresceram com a tecnologia digital, passaremos a encontrar empresas que são native advertisers, isto é, que nunca terão comunicado por outra via que não a digital.

Segundo a eMarketer – https://www.emarketer.com – ,  o investimento publicitário no Facebook e Google poderá crescer 60% e 20%, respetivamente. O mesmo acontece com a Amazon, que verá os investimentos dos seus clientes crescerem 30%, podendo atingir quase 1,5 mil milhões de dólares. Finalmente, no Alibaba verifica-se que 60% das suas receitas já tem origem no investimento publicitário.

Do lado das empresas, podemos perceber a origem dos investimentos. O retalho, por exemplo, irá investir perto de 2 mil biliões de dólares em e-commerce, o que representa um crescimento de cerca de 20% face a 2017.

A já muito discutida questão sobre o papel do espaço físico face ao contexto de crescimento digital, pode encontrar resposta, sobretudo, na complementaridade da oferta, o que tem levado à construção de parcerias entre os grandes players: a Walmart venderá produtos alimentares frescos, via Google Assistant, que podem ser recolhidos em qualquer dos 4.700 pontos de venda. Serão concorrentes, respetivamente, da Whole Foods e da Amazon, na mais cara operação de sempre levada a cabo pela tecnológica (13,7 mil milhões de dólares).

Um olhar particular para o mercado chinês, revela números impressionantes: metade do produto gerado mundialmente pelo e-commerce no retalho tem assento na China, onde ¾ das compras são efectuadas via mobile. Nesta área, o Alibaba espera crescer quase 50%, mesmo com a concorrência aguerrida da Tencent que é o maior e mais utilizado portal de serviços de internet chinês.

Por último, um retrato sobre todos nós e a relação com o digital. No mundo, existem 7,6 mil milhões de pessoas, das quais 4 mil milhões estão conetadas pela internet, sendo que no final de 2018 se estima que sejam 5 mil milhões. O mobile chegará a todos e atualmente cobre 2/3 da população mundial, sendo que 200 milhões de utilizadores tiveram o seu primeiro telemóvel em 2017. Os viajantes no social media já atingem 3 mil milhões e quase todos o fazem via mobile. E o que é mais curioso é que, na grande maioria dos casos, todo este acesso à informação e partilha de dados ou mensagens já é feito gratuitamente.

Mais cedo do que possa parecer, todos teremos acesso gratuito e ilimitado à internet em qualquer ponto do mundo. Antever a evolução do mundo e do marketing em 2018 é uma tarefa arriscada. Antecipar o futuro daqui a 5 ou 10 anos, é um acto de estultícia. Porque, tal como nos orçamentos de proveitos, a única coisa que está certa é que os números estão errados!

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Pedro Celeste

Pedro Celeste

Doutorado em Gestão pela Universidade Complutense de Madrid. Diplomado pelo INSEAD, London Business School, Wharton School, University of Virginia, MIT Management Sloan Management School, Harvard Business School, Imperial College of London, Kellogg School of Management de Chicago e IESE Business School. Na Católica Lisbon School of Business & Economics é Diretor Académico dos Executive Master in Management e coordenador do Programa Avançado de Marketing para Executivos, do Programa de Gestão Comercial e Vendas, do Programa de Gestão em Marketing Digital... Ler Mais..

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