Selim Bassoul: o CEO que pôs fim aos emails, relatórios e reuniões

Selim Bassoul, libanês disléxico e com défice de atenção, consegue gerir uma equipa de 7500 colaboradores sem recurso a emails, relatórios ou reuniões, e manter a empresa na linha da frente, com uma avaliação de mercado de 7,8 mil milhões de dólares (cerca de 7 mil milhões de euros).

A Middleby é hoje uma gigante norte-americana que opera no mercado internacional no setor do processamento alimentar e que integra uma das marcas de equipamentos de cozinha mais conhecida no país, a Viking. Mas nem sempre foi assim. Quando Selim Bassoul integrou a empresa em 1996, esta via-se a braços com produtos de pouca qualidade e a perder dinheiro.

Bassoul, disléxico e com défice de atenção, conseguiu enquanto CEO da Middleby o para muitos seria impensável, liderar a empresa com as suas limitações, sem recurso a e-mails, relatórios ou reuniões e levar a empresa ao sucesso.

Segundo Bassoul, “a dislexia obrigou-me a ser bastante conceptual, uma vez que não sou bom nos detalhes. Penso em termos gerais, em vez de específicos. Isso permite-me dar um passo atrás e ver o grande plano, em vez de ficar preso nos detalhes. Como tenho pontos fracos e várias incapacidades, aprendi a atingir os mesmos objetivos, mas de uma forma mais rápida”, referiu entrevista ao Wall Street Journal. “Sendo disléxico não tenho outra hipótese que não seja confiar nos outros para os detalhes e para as questões mais táticas. Isso torna-nos grandes juízes de caráter. Temos de escolher a melhor equipa para nos rodear”, acrescentou o líder.

Para contornar o défice de atenção, que o torna irrequieto, “mas que pode ser também um grande motivador à ação”, Bassoul saí do escritório e vai para o terreno. “Damos connosco sempre na linha da frente. Não gosto de estar confinado ao escritório. Detesto reuniões. Estou sempre a ir visitar os nossos clientes ou a ir aos escritórios no terreno ou às nossas fábricas. Conheço melhor o negócio dos meus clientes do que eles próprios, o que ajuda a criar soluções antes mesmo de estes terem dado conta de que tinham essa necessidade”, confessou o gestor.

O CEO da Middleby aponta como motivo para detestar reuniões a sua experiência, argumentando que “nem sempre fui o líder. A data altura fui nomeado para ir às reuniões e o que vi foi que na maioria delas as agendas tinham sido mal formuladas. As pessoas levavam dias e dias a preparar-se para as sucessivas reuniões. Não tinham fim. Não vi que tal fosse produtivo, pelo que prometi a mim mesmo que se um dia fosse eu o líder não deixaria que a empresa funcionasse assim”, referiu. E cumpriu.

Muitos dirão ser impossível, mas Bassoul gere a empresa sem usar o email, sem ler memorandos ou marcar presença em reuniões intermináveis.

“Escrevo muito poucos e-mails, não tenho Facebook, nem LinkedIn. Tenho visto que alguns CEO preveem gastar 50% a 60% de seus dias afundados em reuniões, emails, memorandos e relatórios. Não consigo imaginar o número de solicitações que recebem de todos o tipo de pessoas às quais depois têm que responder. Mais de metade do seu tempo é completamente desperdiçado”, revelou em entrevista ao Wall Street Journal.

Evitar distrações como o e-mail, diz, ajuda-o a não ficar atolado em detalhes de quem administra uma empresa com 7500 colaboradores e cujo valor de mercado é de 7,8 mil milhões de dólares (cerca de 7 mil milhões de euros).

O tempo que ganha por semana com esta medida é usado para visitar os colaboradores e clientes e para ajudar na gestão da Bassoul Dignity Foundation, que financia programas de formação profissional e outras formas de ajuda a refugiados.

Poder-se-á pensar como é possível gerir uma empresa desta dimensão sem recurso ao email e aos relatórios e manter-se informado. Para o CEO, tal é possível quando se opta por estar mais presente na fábrica, com os vendedores e com os clientes. Seguir esta estratégia permite-lhe ver muito mais e estar melhor informado do que se recorresse aos emails, aos memorandos e aos relatórios.

Embora Bassoul ignore o email, recorre pontualmente ao telefone, mas sem conference calls, o que só faz quando chega a altura de apresentarem o relatório de contas da empresa.

Bassoul não acompanha o que foi pago e o que faturaram ou mesmo os pendentes. “Vejo o dinheiro. O dinheiro não mente”, confessa o líder.

No campo das reuniões há apenas uma exceção, a do conselho de administração, mas que faz questão de nunca ir além das quatro horas. O método que usa é simples: o CFO faz a apresentação e envia previamente um grande conjunto de informação a cada membro. A agenda da reunião é centrada maioritariamente na estratégia, nas aquisições, no cenário geral em que empresa está e para onde vai, bem como na gestão da mesma.

“O conselho de administração tem conseguido trabalhar comigo, dada a minha inquietude e dislexia. Este coloca as coisas em perspetiva para que não fique atolado em detalhes. Temos confirmações e balanços ao longo do processo, mas eu estou muito focado no panorama geral”, confessou Bassoul.

Mas como gere um disléxico com défice de atenção uma equipa com 7500 colaboradores e sem emails ou reuniões?

Mais uma vez, fazendo das fraquezas as forças para o sucesso. Bassoul contorna as suas dificuldades na gestão de grandes equipas com a descentralização. De acordo com o líder libanês, “se tudo estivesse centralizado em mim morreria. Falharia. Não faço uma gestão das equipas como tradicionalmente. Foco-me em determinada pessoa da equipa, trabalhando as competências individuais. Dou-lhes poder para fazerem muitas coisas e estes fazem-nas acontecer. Os dados mostram que 98% dos nossos colaboradores se mantêm connosco. Tem de haver alguma coisa que está a funcionar”.

Bassoul vem provar que há alternativas à forma habitual de gerir uma empresa e que ser-se disléxico e com défice de atenção não é impeditivo de ser-se bem-sucedido e aceite pelos demais.

Veja a intervenção de Bassoul no Baron Funds Investment de 2014, onde falou sobre a Middleby:

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