Opinião
A produtividade na equipa: o propósito e a liberdade de expressão

No último artigo enderecei o tema da produtividade individual de uma forma muito pessoal e talvez por isso teve mais impacto. Hoje na abordagem ao tópico da produtividade em equipa falo também na primeira pessoa.
Há pessoas que preferem trabalhar sozinhas porque não confiam na qualidade do trabalho dos outros, porque não estão para dar explicações ou porque simplesmente acham que trabalhar em equipa é uma perda de tempo. Eu acredito que é possível fazer com que o conjunto seja superior à soma das partes e já tive essa experiência gratificante como elemento e como líder de equipas. Ao pensar nestas situações encontro alguns denominadores comuns.
Há uma grande diferença entre as equipas que partilham um propósito e as que não o fazem. Um propósito é uma razão superior que nos move inequivocamente a fazer algo para outros. Os outros podem ser identificáveis e conhecidos ou mais abstractos, como o nosso país. O propósito é uma aspiração, uma inspiração que guia a mudança. É fácil confundir o propósito com o conceito de visão da organização. A visão é o destino onde queremos chegar, o propósito é o verdadeiro motivo pelo que queremos chegar lá. A existência de um propósito numa nova empresa ou num novo projecto é fácil de identificar, quando a ideia aparece há sempre um motivo subjacente.
Por exemplo, quando em 2007 fiz parte da equipa que criou o The Lisbon MBA, o principal objetivo era criar um MBA internacional em Portugal, com as duas melhores escolas de gestão nacionais e com o MIT e que fosse reconhecido internacionalmente. Desafiante. Uniu-nos a todos em benefício dos alunos, nacionais e estrangeiros, independentemente de ser desenvolvido por escolas concorrentes. O verdadeiro propósito por detrás deste projeto era criar um produto superior ao que qualquer uma das escolas já tinha, de forma a eliminar estes, mesmo que cada escola individualmente viesse eventualmente a perder faturação.
No mundo do empreendedorismo o propósito também não falta, tem de existir, é o combustível do empreendedor e da sua equipa. Muita da base do empreendedorismo é tentar resolver problemas de outros, para os quais ainda não se tinha encontrado solução. É o propósito que na essência define uma equipa. Sem propósito não há equipa verdadeiramente motivada, há um conjunto de pessoas que até se podem dar muito bem e trabalhar bem juntas, que até têm a mesma visão, mas que não têm o denominador comum do impacto e da marca que querem deixar.
O propósito é da equipa, não é do líder. Cada membro da equipa tem de o sentir como seu, senão não vai dar o melhor de si por ele, e ao mesmo tempo tem de se sentir como da equipa também. Ter um motivo aspiracional partilhado pelo qual se fazem as coisas faz toda a diferença na dedicação, esforço e entusiasmo que colocamos. O propósito pode nascer só de um indivíduo, e esse depois pode contagiar outros que o tornam seu. É mais fácil abraçar um propósito quando se conhece o destinatário do nosso esforço – existe, tem cara. Torna-se um pouco mais difícil quando é genérico, por exemplo: as mulheres, as crianças, um grupo de indivíduos com um problema. É muito mais utópico quando o destinatário do nosso esforço é, por exemplo, o altruísmo de mudar o nosso país.
O propósito determina a motivação que nos faz acreditar e essa motivação tem uma correlação direta com a produtividade, que em equipa se torna exponencial e maximiza a probabilidade de atingir o objetivo subjacente ao propósito.
A segunda componente da produtividade em equipa que considero determinante é a clareza na comunicação. Não é comunicar muito e constantemente, é comunicar de forma eficaz e clara em todos os sentidos. É muito importante que as pessoas numa equipa não tenham medo de dizer o que pensam com respeito, mesmo que seja contra a opinião maioritária e que não sejam penalizadas por isso. É importante que, havendo respeito, haja liberdade de expressão e que o líder seja capaz de ouvir, interpretar e processar adequadamente o que ouve e que os membros estejam capacitados para aceitar as decisões da equipa como um todo mesmo quando contrárias à sua opinião pessoal. Um debate aberto e controlado é sinal de uma equipa madura e confiante, que cresce com o contributo de todos.
Como membro de equipas sempre contribui com ideias e opiniões e já tive uma situação específica onde o meu superior hierárquico me disse que não estava interessado na minha opinião, num tema que era crítico para o nosso propósito. Para mim esta resposta foi muito pior do que um insulto, foi suficiente para decidir que não queria mais pertencer a essa equipa.
Como líder de equipa já ouvi abertamente críticas dos outros elementos da equipa, que me ajudaram a crescer e a fazer melhor o meu papel. Custa ouvir, mas se pensarmos que se o o que nos estão a dizer é porque são pessoas que acreditam que podemos fazer diferente, então temos que saber tirar o peso da crítica e transportá-la para a mudança do que não estamos a fazer tão bem.Tenho a sorte de nos últimos anos ter-me rodeado de pessoas excecionais que tornam o meu dia a dia motivante, rico e construtivo.
O ruído dentro e à volta das equipas devido à má comunicação, à falta dela ou ao medo de dizer o que se pensa, torna as equipas pouco produtivas pois o foco está no “zum-zum” à volta e não no propósito, e o “zum-zum” passa a ser o mais importante para a equipa: quem disse o quê, quem foi chamado por quem, quem foi promovido, quem foi emprateleirado, quem, …”zum-zum” “zum-zum”