Responsáveis de empresas sentem-se sós, diz estudo

45% dos responsáveis de uma empresa sentem-se sós, sobretudo nos momentos difíceis, segundo um estudo do Bpifrance que traça um retrato robot do responsável de uma Pequena e Média Empresa (PME).

O exercício solitário do poder é, por vezes, demasiado pesado para a autoestima dos chefes de uma empresa. Segundo um estudo do banco público de investimento Bpifrance que envolveu perto de 2400 diretores de empresas francesas, 45% dos responsáveis de PME sentem-se sós, ou melhor, demasiado sós.

Este estudo, citado pelo Le Figaro, mostra que tanto os líderes e proprietários de empresas, como o “pequeno patrão” não se sentem suficientemente apoiados. Este isolamento é um handicap quando as dificuldades surgem. A principal? O “problema de tesouraria”.

“A perda de um grande cliente, uma falta de pagamento que chega no pior momento ou um empregado que conhecemos bem e que temos de deixar partir são alguns fatores de stress que aumentam a sensação de solidão”, explica Olivier Torrès, professor da universidade de Montpellier e coordenador do estudo.

Torrès descreve esta solidão, evocando as “noites em branco passadas a lamentar-se”. Aliás, um CEO de empresa não costuma dormir em média mais do que 6h30 por noite, ou seja, pouco mais de meia-hora a menos que a maioria dos franceses. Também faz menos desporto do que a média, segundo as estatísticas.

Solidão e dúvida andam de mãos dadas, numa espécie de círculo vicioso. Ainda de acordo com o estudo, o CEO de uma PME sente-se também um pouco mal-amado, o que o leva a afirmar que gostava de ver o seu trabalho mais reconhecido e de ser objeto de menos desconfiança por parte dos sindicatos e dos empregados.

O estudo aponta ainda outros fatores que aumentam a solidão do empresário: a falta de um braço direito ou de uma pessoa de confiança e o tempo de trabalho semanal superior a 70 horas. Os resultados negativos no exercício em curso ou um fraco desempenho também pioram a situação. O facto de ser o proprietário e representante máximo da empresa aumenta as situações de stress: está condenado a ter sucesso, para deixar uma boa impressão.

Torrès afirma que esta solidão, que é um traço característico dos decisores, acentua-se no momento das escolhas estratégicas. “É preciso ‘retirar do seu pedestal’, se assim podemos falar, a solidão, porque é perigoso”, explica Valérie-Claire Petit, professor de gestão e diretor da Edhec, numa publicação do Bpifrance LeLab.

“Esta palavra raramente é pronunciada. No seu lugar, preferem dizer que não são ajudados ou que não dispõem de espaço de manobra. O problema é que, em França, a solidão reveste ainda uma dimensão heroica, quiçá romântica. Quando conseguirem perceber que o poder pode ser partilhado, será dado um grande passo”, acrescenta o professor.

Nicolas Dufourcq, diretor-geral do Bpifrance, refere que o diretor de uma PME é um como um desportista solitário. “Todos os grandes desportistas treinam em grupo ou têm um treinador. Sozinhos, não progridem tanto como poderiam”, avança.  Para acabar com este isolamento, o Bpifrance instalou aceleradoras de empresas nas treze regiões francesas.

Entre as soluções apresentadas pelos que responderam ao estudo para acabar com a solidão, destacam-se a participação numa rede de empresários, os conselhos externos e a presença em eventos profissionais.

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