Entrevista/ “O 5G é uma situação de preocupação e aprendizagem”

Fábio Carneiro, country leader da APW em Portugal

A APW entrou recentemente no mercado português e espera investir 11 milhões de euros nos próximos três anos. O Link To Leaders falou com o country leader português da empresa que afirma não ter competidores em território luso e que vê um “potencial astronómico” neste novo mercado.

A APW Portugal comunicou recentemente a sua entrada no mercado nacional. Esta empresa, que já está presente em 18 países e que deu os primeiros passos em 2010, na Califórnia, Estados Unidos, tem como core business a aquisição e gestão de contratos de torres e antenas de telemóveis.

Em Portugal, espera investir 11 milhões de euros nos próximos três anos. O objetivo da expansão passa pelo crescimento global do grupo, que é financiado pelo fundo de private equity KKR. Falámos com Fábio Carneiro, country leader da APW em Portugal, para perceber os planos de atuação da empresa.

Atualmente, na intitulada Nova Economia, temos empresas como a Uber e a Airbnb que se posicionam como intermediárias entre a procura e a oferta. Tal como elas, a APW também se posiciona como intermediária, mas de uma forma algo diferente. Consegue explicar-nos o vosso modelo de negócio?
Enquanto que a Uber e a Airbnb são catalisadores da oferta e da procura, nós somos intermediários da oferta e da procura que já se encontraram. Ou seja, imagine que tem um edifício e em cima dele tem um rooftop onde há uma antena de telecomunicações instalada. Eu não coloco a antena nem sou o dono. O que faço é comprar os direitos dos metros quadrados que estão debaixo da antena e passo a receber a renda do aparelho em nome do proprietário.

E como é que é feita esta operação? Têm comerciais no terreno?
Do ponto de vista prático, somos duas empresas. Uma é o fundo de investimento em si – a que tem o dinheiro e o investe nos ativos -, e que tem pouquíssimas pessoas. E temos a segunda empresa que se foca no serviço , que faz todo este levantamento e a preparação do ativo para que possa ser comprado.

Nestas duas empresas, qual é o tamanho da equipa?
Na primeira equipa de investimento não lhe sei dizer. Na segunda, a que faz todo o levantamento e até a administração do portefólio, somos no mundo cerca de 250 pessoas. Em Portugal, começámos com cinco e contratámos mais duas pessoas durante este mês. Somos sete atualmente.

E nos próximos três anos estão a pensar em aumentar a equipa?
Nos próximos três anos diria que uma equipa ideal, em Portugal, seria de 10 a 15 pessoas.

Quais são os vossos objetivos até ao final do ano?
O nosso objetivo até ao final deste ano é estabelecer a operação, que é uma engrenagem. Os nossos negócios são realizados a médio prazo porque podem levar entre meio ano a um ano até se concretizarem. Portanto, os objetivos até ao final deste ano são realizar investimentos, mas certamente que os mais significativos ficarão para 2019.

Este ano foram para estabelecer a operação, os parceiros jurídicos, o envolvimento e a formação das pessoas e a construção do pipeline. Posso então dizer que estamos a superar as nossas expetativas em relação a Portugal.

“Podemos demorar 15 anos, ou mais, até chegarmos ao break-even de um contrato.”

Em média, quanto tempo é que demoram a ter o retorno (payback) depois de fazerem um contrato?
Podemos demorar 15 anos, ou mais, até chegarmos ao break-even (ponto de equilíbrio económico) de um contrato. Porque estamos a falar do payback de um contrato. Eventualmente, vou ter um grupo de contratos e posso ter um cancelamento antes de atingir esses 15 anos e isso gera-me um prejuízo. Então, o payback do meu portefólio diria que é superior a 20 anos, o que é muito alto.
No que diz respeito aos investimentos, consideramos um horizonte mínimo de 30 anos. Quando se faz um contrato de cedência dos direitos de uma área este é feito, no mínimo, a 30 anos.

“Toda a incerteza interfere de forma astronómica no nosso negócio e, de certa forma, serve de impulsionador para que os clientes ou parceiros da APW tenham a intenção de vender os seus direitos.”

Pegando no ponto dos cancelamentos de contratos: a incerteza que paira sobre a Altice não interfere com o vosso negócio?
Toda a incerteza interfere de forma astronómica no nosso negócio e, de certa forma, serve de impulsionador para que os clientes ou parceiros da APW tenham a intenção de vender os seus direitos e, por outro lado, que eu tenha a intenção em selecionar, cada vez mais, os investimentos que vou fazer.

Lembrando ainda que quando nós olhamos para o mercado estabelecemos uma equipa e uma dinâmica que tenha o objetivo de atender a um porcento do mercado. Isto significa que podemos ser bastante seletivos [nos contratos que fazemos].

E que outras dificuldades é que conseguem antever para o mercado português?
Temos aqui uma questão relativa à mão-de-obra. Estou bastante satisfeito com a mão-de-obra portuguesa, mas diria que não é muito simples contratar. De certa forma, há uma carência no mercado e não é pela quantidade de mão-de-obra, mas talvez pelo interesse específico no nosso negócio – que é um pouco difícil de ser entendido.

No geral, acredito que existem as questões burocráticas e jurídicas, [mas] em qualquer mercado, a partir do momento que se estabelece um negócio novo, há uma curva de aprendizagem e o ano de 2018 servirá para ultrapassar estes obstáculos.

“[Portugal] é um mercado que tem uma economia que nos favorece que nos traz segurança para que possamos investir.”

E do ponto de vista positivo, que oportunidades é que encontraram no mercado português?
É um mercado atrativo do ponto de vista de massa crítica e de disponibilidade de antenas para o investimento. É um mercado que tem uma economia que nos favorece que nos traz segurança para que possamos investir. Eu estou a tratar do fluxo de caixa, ou seja, investimento a pronto para receber a prazo, pelo que uma estabilidade na economia é fundamental.

Encontramos ainda uma segurança jurídica e acho que do ponto de vista do sucesso e da velocidade de sucesso do nosso negócio, Portugal tem um ambiente extremamente favorável porque o nosso negócio faz cada vez mais sentido num ambiente onde as pessoas dão utilidade ao capital a pronto, que a longo prazo vai gerar uma rentabilidade significativa ou um investimento até de cunho pessoal, como em estudos, etc.. [Nestas situações], o dinheiro presente faz muito mais sentido do que ser segmentado em 30 anos.

A APW Portugal tem algum competidor a atuar na mesma área?
Que tenhamos conhecimento não.

“Para nós, o 5G é uma situação a de preocupação e aprendizagem, mas que, de certa forma, é o que coloca o nosso negócio em pé.”

Em relação à possível entrada do 5G, como é que se estão a preparar esta nova realidade de transmissão de dados?
A grande questão do 5G é que tende a impulsionar o nosso negócio porque traz uma determinada insegurança para aqueles que não conhecem a tecnologia e para aqueles que têm as antenas especificamente instaladas em determinadas propriedades – que se podem tornar obsoletas da “noite para o dia” em função de uma nova tecnologia que vai existir.

Para nós, o 5G é uma situação de preocupação e aprendizagem, mas que, de certa forma, é o que coloca o nosso negócio em pé. Porque se não houvesse risco no contrato de arrendamento de uma antena a nossa existência não seria necessária.

Portanto, a implementação do 5G pode trazer boas notícias para o vosso negócio, certo?
Em si, seria uma má notícia, mas, por outro lado, para quem faz negócio com a APW, as más notícias favorecem o fecho do negócio connosco. Nesse seguimento, sinto-me quase como se fosse uma seguradora. As incertezas favorecem-nos.

Que futuro preveem para o mercado português na vossa área de atuação?
Eu vejo que Portugal é um local com um potencial astronómico de prestação de serviços, tanto internamente, como para os outros países europeus. Estamos aqui pelo Estado português em si e pelos negócios da economia portuguesa, mas acredito que uma surpresa muito positiva seria aprendermos, através da nossa unidade portuguesa, a ter possibilidade de atender a diversas regiões de Portugal com serviços de advogados e de processamento de informação, que é um pouco o que as grandes empresas têm feito hoje.

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